quarta-feira, 17 de junho de 2015

Existe Felicidade Profissional?




Por Odoardo Carsughi (HR Director - Unicoba) para LinkedIn Pulse e "Managers Café" (com autorização do autor).



Tenho ao longo de meus já mais de 20 anos como profissional de RH sempre me confrontado com a seguinte situação: lideranças da cúpula extremamente motivadas e o resto da pirâmide organizacional, como se diz hoje em dia, em outra “vibe”. Choque de gerações, falta de comprometimento, pouca ambição, etc e tal. São inúmeras as explicações que encontrei. A pergunta que sempre me aterrorizou era a seguinte: existe felicidade no trabalho? Questão muito debatida, mas a melhor resposta que até hoje encontrei foi a seguinte: quem faz o que gosta é feliz no trabalho. Aprendi isso com meu pai, que aos quase 85 anos de vida ainda está na ativa e só pensa em parar quando morrer.
Até aí tudo bem, mas como podemos fazer o que gostamos se muitas das vezes (aliás para a grande maioria das pessoas) o que gostamos não é o que mais dá dinheiro? Após muito pensar e observar o mundo ao meu redor, descobri que não é impossível, mas não é a coisa mais simples do mundo (até porque se fosse todo mundo faria...). É preciso muita disciplina e perseverança.
Em primeiro lugar, sempre gaste menos do que você ganha. E não adianta vir com as costumeiras chorumelas dizendo que ganha pouco, que tem filhos, que os preços estão “pela hora da morte” e etc e tal. Isso eu sei e não podemos mudar. Vamos nos focar no que podemos mudar. Menos compras? Uma calça ao invés de duas? Aluguel mais barato? Carro usado por cinco anos ao invés de zero a cada 3 anos? Não quero aqui entrar no mérito do que fazer ou deixar de fazer. Até porque apenas cada um de nós sabe o que e onde pode cortar. Mas quero aqui chamar a todos para uma análise mais detalhada e racional da situação. Muitas vezes compramos mais coisas do que precisamos. Também não vou entrar na discussão dos porquês, pois isso tem gente muito mais gabaritada do que eu para tanto que pode ajudar e muito. Psicólogo, psiquiatra, pastor, etc. O que vale aqui é buscar uma redução das nossas necessidades materiais. A única premissa válida é admitir que temos mais do que precisamos. Basta olhar quantas camisas temos e quantas usamos com mais frequência... Não estou aqui invocando um viver estilo Gandhi ou à la Teologia da Libertação. Apenas pedindo que não nos deixemos levar pelos prazeres fáceis da compra de produtos e serviços desnecessários que classificamos como “absolutamente imprescindíveis” à nossa felicidade. Quem pensa assim está mais para compensação, fuga, etc e tal do que para verdade absoluta. A palavra que descreve este conceito para mim é a frugalidade. Nem mais nem menos. Apenas o necessário. E quem vai descobrir o nível necessário é cada um de nós.
O próximo passo é sempre que ganhar R$1 de aumento, aumentar o padrão de vida em apenas R$0,20. A explicação é simples: com R$0,80 eu aumento minha poupança. Os R$0,20 são para aceitarmos que somos de carne e osso e precisamos, mesmo que saibamos que é desnecessário, dar um afago à alma consumista e comprar aquilo que tanto queremos. É um paralelo muito simples com os regimes de perda de peso de sucesso, que sempre deixam 1 dia da semana para a escapadela. Os R$0,20 são o “chocolate”, que nos joga endorfina na circulação e nos dá a sensação de bem-estar necessária a esta “cruzada” em busca da felicidade no trabalho.
Por último, há a questão de ser um profissional empregável. Buscar sempre se atualizar. Isto aumenta o seu preço de compra. Não adianta reclamar da empresa, dos pais, da mulher e etc. Isto deve ser feito junto ao seu psicólogo, que é pago para isso e tem a obrigação de ouvir as nossas chorumelas. Sei que é pragmático demais o que vou dizer, mas mesmo correndo o risco de ser tachado de duro e insensível, vou dizer. É claro que é muito mais fácil fazer tudo isso se uma pessoa vem de uma situação sócio-econômica mais favorável. Mas uma eventual situação familiar mais humilde não pode ser usada como impeditivo para mudar o rumo das coisas. Dificulta e muito, sem hipocrisias. Mas não deve impedir. Sei também que só dizer que ter força de vontade vai resolver tudo é uma meia-verdade muito usada hoje em dia, onde se pega um exemplo de um ex-vendedor de sanduiche na praia que se esforçou e virou doutor e se generaliza dizendo que só não chega lá quem não quer... Não é bem assim, mas em tempos de conversas fáceis e conclusões apressadas isto “cola”.
Com tudo o que falei até aqui, uma pessoa consegue deixar de ser vítima de seu passado para tomar as rédeas de seu futuro. Quem precisa do salário do mês para pagar o aluguel está com pouca margem de manobra. Quem por outro lado tem poupança e empregabilidade pode se dar ao luxo de escolher seus projetos profissionais e alcançar um nível de independência financeira que permita fazer a “transição” para eventualmente fazer o que mais gosta. Por mais paradoxal que pareça, quem mais pode se arriscar e o faz, sendo autêntico, menos chances tem de perder o emprego. Quem tem medo de perdê-lo se apequena, busca as respostas politicamente corretas, não desafia o status quo e não inova. Acaba tendo seu patrimônio profissional dilapidado e vira presa fácil nos recorrentes “cortes” de pessoal para adequação de estrutura. É triste mas é assim que funciona.
Mas o mais interessante é que quando se pode escolher o que fazer, maiores são as chances de se encontrar a felicidade já no meio do caminho, sem ter que esperar chegar aos 50-60 anos e aí então abrir a sonhada pousada ou cuidar de animais abandonados, apenas para exemplificar.
Também não quero entrar na seara das crenças religiosas aqui, mas quantas vezes paramos para pensar nisso? O presente é de sofrimento para ganharmos a felicidade eterna no reino dos céus depois da morte ou a felicidade pode e deve ser buscada nesta vida?
Colocar-se como vítima de um mundo cruel é até certo ponto confortável. Não é minha culpa. Eu nasci neste meio e nestas condições, dizem as pessoas. Dá um certo alívio no curto prazo, mas pode trazer uma angústia infernal conforme se passam os anos...
O que quero pedir a você para refletir é sobre a visão de mundo possui e que lhe foi certamente herdada de vários modos. Você é refém de uma história já pré-definida ou pode ser ator principal de tudo que vive e viverá até a hora que o jogo acabar?
Vítima ou responsável? É você que decide... 
Abs e boa semana!
Aconteceu alguma situação profissional que se encaixe no caso acima? Gostaria de compartilhar conosco?

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