quarta-feira, 15 de julho de 2015

Delegar ou não, o dilema do gestor



Por Ivan Witt (Purchasing Director na Hyundai Caoa do Brasil) para LinkedIn Pulse e republicado no Managers Café com permissão do autor.



Bons profissionais destacam-se naturalmente. Possuem habilidades específicas que os diferenciam dos demais. Quando notadas pela organização, culminam com a promoção desses profissionais. A sensação é boa. Dever cumprido, satisfação pessoal, superação, reconhecimento. Mas quando a promoção implica na liderança de um grupo, é preciso estar alerta e tomar alguns cuidados.
A primeira coisa é lembrar que pessoas do time também buscavam a promoção. Claro, não é sua culpa. Ao contrário, os méritos são seus. Mas, por um tempo, os que não foram reconhecidos preferirão pensar que coisas outras o levaram ao lugar onde eles queriam estar. A sensibilidade, causada por essa frustração de não terem sidos escolhidos, faz com que o clima fique meio pesado e que as respostas às suas sugestões ou demandas sejam recebidas com um pouco de despeito. 

Você foi o escolhido pela empresa. Agora quer impor aos demais integrantes do grupo seu estilo, para que o efeito multiplicador tome lugar e todos evoluam e se superem. Mas não é assim que acontece. Seres humanos resistem naturalmente a estilos alheios. Pior ainda quando o modelo a ser seguido é o daquela pessoa que tomou o lugar que ele desejava. 

Você então parte para o controle total das ações. É seu subconsciente duvidando de tudo e todos, o medo de algo dar errado sob sua gestão. Nada pode escapar do seu crivo e da infalível metodologia que o levou aonde está. 

Etapa final, você começa a fazer sozinho o trabalho de todos. Quando menos esperar, outras áreas começarão a queixar-se do desempenho do time, do engessamento das regras, do atraso no andamento das coisas. Sem entender nada, você será responsabilizado pelos resultados. Que absurdo! Será que não percebem? São eles que não seguem o modelo perfeito, você. 

A essa altura do texto você vestiu a carapuça ou lembrou de algum chefe querido... 

Alguns fatos que vale a pena considerar para que você continue ascendendo profissionalmente como gestor: 

Seus colaboradores são adultos, com família para cuidar, contas para pagar, assinam cheques, têm cartão de crédito, dirigem, pagam a prestação do financiamento imobiliário, tiram férias, ficam doentes, têm problemas pessoais. Em outras palavras, são iguais a você, sem tirar nem por. Possuem qualidades e defeitos e querem, como você, todos os dias fazer seu melhor, em troca de remuneração e reconhecimento. 

Não lidam bem com expectativas, nem as suas nem as deles. Por isso quem lidera tem de ser um excelente comunicador. Seja um eterno aprendiz nessa complexa arte. 

Contagiam-se com o seu humor. Se você está bem, calmo e receptivo, eles interagem, conversam, trocam conhecimento. Se você está de cara fechada, estressado, afastam-se e torcem para que você não lhes dirija a palavra. 

Guiam-se pela interpretação do meio. Aprendem pelo exemplo. Estão mais atentos ao que você faz do que naquilo que você fala. Com um complicador, interpretam de acordo com o modelo mental deles. 

Agora, um modelo bem aceito pela maioria dos grupos de trabalho. Ao assumir um posto de liderança, reúna-se com todos e diga a cada um como está feliz pela oportunidade de trabalhar com eles, de aprender mais. Reconheça que sabe pouco sobre eles e seus métodos e que será um prazer conhecer coisas novas. Marque reuniões individuais e pergunte sobre o que esperam, o que precisam. Procure saber, se houver reciprocidade, um pouco do lado pessoal de cada um, o momento que vivem, o que pensam da vida. Ouça, ouça, ouça e, depois, ouça mais um pouco. Estabeleça um relacionamento de confiança. 

No princípio, interceda pouco nas rotinas do dia a dia. Procure entender o funcionamento do grupo no contexto atual e depois, aos poucos, faça pequenas sugestões. Elogie em público, dê feedback em local privado. Preste muita atenção na sua postura, no que anda fazendo, afinal você é o exemplo a ser seguido. Mantenha sempre que possível seu humor e, se tiver um mau momento, deixe todos saber que não tem nada a ver com eles ou, se for referente ao trabalho, compartilhe com o grupo o porquê da sua preocupação. 

Aos poucos você será acolhido por todos e fará parte do time, digno da confiança de todos. Graças a suas habilidades pessoais, que agora fazem parte do acervo do grupo, você será respeitado, ouvido e consultado sobre os assuntos relevantes. Nesse instante você delegará sem receio, pois sabe que, se precisarem, eles se acudirão de você, buscando ajuda. 

Quem lidera conhece seu grupo, entende suas habilidades e limitações. Quanto mais alto você for na organização, mais vezes deverá repetir esse mantra: não há substituto para aprendizado continuo, humildade e empatia.


Aconteceu alguma situação profissional que se encaixe no caso acima? Gostaria de compartilhar conosco?

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